quinta-feira, 5 de março de 2009

INVENTO CIVILIZATÓRIO

Estou trabalhando num projeto que tem tudo para decolar. Trata-se de um veículo voador, movido a motor. A engenhoca funciona de maneira simples.
Primeiro você paga bem caro para andar nela. Depois vai para uma fila enorme para o pessoal verificar que você é você e lhe dizerem que o assento reservado virou a poltrona do meio. Como esse procedimento é demorado, vamos lhe exigir que você chegue uma hora antes. Mas isso não que dizer que você não vai esperar um bocado na fila para ser atendido e na sala de embarque.
Para o seu divertimento no combate ao tédio, o animaremos com sucessivas trocas de portões. Você e seus companheiros ficarão migrando de um lado a outro do curral aéreo (nome provisório), sempre inseguros de estarem no portão errado. Para deixar a coisa ainda mais dinâmica, as informações sobre o motivo do atraso, o portão correto e a previsão de embarque são racionadas e dispares. A gente pensa em tudo. O serviço de autofalante convocará a todos no momento certo. Procure não ficar alegrinho nessa hora, pois existem algumas prioridades. Primeiro embarcam passageiros acompanhados por crianças, gestantes, com dificuldade de locomoção, cartão Titanium, Platinum, Ouro, Euro e Dólar. Depois os que tiraram boas notas em Moral e Cívica, os que acreditam numa energia superior e finalmente você. Não fique se achando o último dos mortais, pois esse sistema de prioridades não terá validade nenhuma, uma vez que todos embarcarão num ônibus que os levará até o bólido voador. Lá dentro você poderá ficar lado a lado com uma gestante, acompanhada de criança, com dificuldade de locomoção, portadora de um cartão Titanium e com boas notas em Moral e Cívica. Um adicional extra de adrenalina chegará a suas veias quando você tiver que escalar as íngremes escadas desse veículo, projetado especialmente para esse curto deslocamento, carregado de sacolas e mochilas. Quando o ônibus abrir as portas, é só sair correndo, deixar para trás aquele pessoal lento que teve a prioridade e subir as escadas. Pronto, você está dentro da nave voadora, mas ainda não é hora de relaxar. Espere passar todos os avisos de segurança, os avisos dos anunciantes, as promoções, as disputas pelo espaço do bagageiro superior, antes de partir para a leitura de seu livro. O volume da locução não lhe dará outra opção. Dormir seria uma boa opção para passar o tempo, no entanto, você não aproveitaria o voo, razão pela qual projetei uma poltrona que o encosto fica a 85º, quando reclinado. Comer é também uma maneira de não ver as horas passarem. Mas, eu recomendo sempre fazer uma boa refeição antes de embarcar. Consegui fazer uma coisa milhares de vezes mais pesada do que o ar voar, mas ainda não encontrei um jeito de servir alguma coisa que preste para comer a bordo. Quando você estiver próximo ao seu destino, notará que a nave voadora dará muitas voltas antes de pousar, devido ao intenso tráfego aéreo da região (qualquer que seja). Foi daí que tirei o nome 14 Bis. Resta ainda o gran finale, para coroar essa sequencia de prazer, diversão e aventura: a retirada das suas malas na esteira rolante. De início você não a verá, uma vez que ela estará circundada por carrinhos e passageiros que temem que, além de rolante, a esteira seja caminhante. Abra caminho sem se preocupar com a educação, pois ninguém vai notar seus bons modos. Retire suas malas e pronto, você já pode ir para fila do taxi. Como vocês viram, essa patente tem tudo para acelerar ainda mais o processo civilizatório da humanidade. Espero que vocês tenham se interessado por minha invenção. Se o invento não pegar, partirei para um outro projeto; a barra de cereal. Obrigado por terem me lido até aqui. Espero revê-lo em breve nesse ou num próximo post. Não esqueçam os seus pertences a bordo e, por favor, abram com cuidado o compartimento superior, durante o pouso e a decolagem, alguns objetos podem ter se deslocados.